Texto de Patrícia Bispo
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A voz é o meio de excelência da comunicação humana e é um termômetro do estado emocional. Através da forma como as pessoas a utilizam, por exemplo, é possível identificar características comportamentais e até mesmo como está o clima organizacional. Por essas e outras razões, parar e escutar a forma como os colaboradores expressam-se no dia-a-dia pode ser um valioso recurso para ajudar a gerir equipes. A influência dos fatores emocionais e das condições de vida nos distúrbios somáticos em profissionais que utilizam a voz para o trabalho, relações inter-pessoais no trabalho e o comportamento vocal, além da comunicação efetiva como ferramenta para lidar com o estresse no trabalho são alguns dos assuntos abordados nessa entrevista concedida ao RH.com.br, pela fonoaudióloga Luciana Lourenço e especialista em Voz pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia e gestora do departamento de Fonoaudiologia da Micelli & Associados - Medicina Ocupacional. “Em ambientes corporativos, por exemplo, o comportamento vocal deve ser medido, avaliado, controlado pelo falante e muitas vezes não damos atenção à nossa comunicação de um modo geral”, afirma Luciana Lourenço. Caso você nunca tenha parado para pensar sobre a força da voz no meio organizacional, é hora de prestar mais atenção ao que seus ouvidos escutam. Confira a entrevista na íntegra e aproveite a leitura!
RH.com.br - Existe alguma relação direta entre o timbre da voz e os níveis de estresse vividos por uma pessoa?
Luciana Lourenço - Nossa voz modifica-se constantemente, dependendo, entre outras variáveis, de estados emocionais e do ambiente o qual nos encontramos. O estresse cotidiano faz com que se perca o hábito natural de respirar para falar. Os ciclos respiratórios tornam-se irregulares demonstrando agitação e até descontrole ao ouvinte. Quando estressados, normalmente produzimos uma voz mais tensa e vozes tensas soam mais agudas, com esforço percebido pelo outro, podendo até ser considerada desagradável. A velocidade de fala também tende a aumentar, podendo demonstrar ansiedade, falta de tempo e tensão.
RH - Quando um profissional se expressa com um timbre de voz alto, ele contribui para o aumento dos níveis de estresse na empresa?
RH - Quando um profissional se expressa com um timbre de voz alto, ele contribui para o aumento dos níveis de estresse na empresa?
Luciana Lourenço - Há uma diferença entre a intensidade e a freqüência da voz. Vozes fortes e graves normalmente denotam autoritarismo. A intensidade da voz está muito ligada às características de personalidade, mas também está relacionada às características culturais ou modelos vocais. As famílias de línguas latinas, por exemplo, utilizam de um modo geral, intensidade de voz mais elevada. No ambiente de trabalho o uso deste padrão pode conferir inabilidade em lidar com o outro, pois pode denotar muita vitalidade, mas também enorme falta de educação e de paciência, invasão do outro até um recurso para intimidação.
RH - Quanto mais estressado o indivíduo encontra-se, existe uma tendência de externar os sentimentos através da voz?
RH - Quanto mais estressado o indivíduo encontra-se, existe uma tendência de externar os sentimentos através da voz?
Luciana Lourenço - A voz é o meio de excelência da comunicação humana e é um termômetro de nosso estado emocional. O estudo dos mamíferos demonstra claramente que os sons vocais, as atitudes corporais e os gestos tornam-se tão mais intensos quanto mais estressado está o animal. Isso não é diferente com os seres humanos, que expressam estados emocionais através de sua voz.
RH - Através da forma como os colaboradores expressam-se é possível identificar características do clima organizacional?
RH - Através da forma como os colaboradores expressam-se é possível identificar características do clima organizacional?
Luciana Lourenço - A forma como os colaboradores se expressam, dirigem-se aos colegas de trabalho mostram muito do clima organizacional, pois a voz é mais do que um instrumento de comunicação. Ela torna-se o meio de excelência da comunicação social e, sobretudo, profissional, onde eclodem e desenvolvem-se pequenos e grandes conflitos psicossociais.
RH - Um clima organizacional saudável é aquele em que as pessoas sempre falam baixo?
RH - Um clima organizacional saudável é aquele em que as pessoas sempre falam baixo?
Luciana Lourenço - Nem sempre falar baixo significa tranqüilidade. O fato é que em ambientes mais estressados normalmente observamos maior intensidade na voz e mais força e tensão à fonação. Devemos estar atentos ao comportamento vocal do grupo, ou seja, aos padrões vocais que são utilizados com maior freqüência.
RH - A voz pode tornar-se um instrumento de trabalho?
RH - A voz pode tornar-se um instrumento de trabalho?
Luciana Lourenço - Sem dúvida alguma. A voz é o principal instrumento de trabalho de aproximadamente 25% da população economicamente ativa. Quando falamos em instrumento de trabalho, procuramos conscientizar os profissionais da voz do fato deles terem em suas vozes instrumentos, veículos fundamentais para exercerem sua profissão. Falamos aqui dos professores, dos operadores de telemarketing, dos cantores e outros profissionais da voz que sem ela ficam impedidos de trabalhar.
RH - Pessoas inseguras podem usar a voz para disfarçar uma 'aparente fragilidade'?
RH - Pessoas inseguras podem usar a voz para disfarçar uma 'aparente fragilidade'?
Luciana Lourenço - O fato de identificarmos alguém por sua voz e qualificarmos essa pessoa por suas características vocais é uma experiência diária. Quando não conhecemos alguém e falamos com este alguém ao telefone, criamos projeções mentais sobre esta pessoa, seu tipo físico, seu perfil de personalidade. Pessoas mais inseguras tendem a utilizar tons mais agudos de voz e menor intensidade, a articulação das palavras tende a ser mais imprecisa e, normalmente, utilizam uma modulação de voz mais restrita, o que em algumas situações pode lhe conferir uma fala mais monótona. Há formas de se aprimorar a comunicação de pessoas que se sentem inseguras ao se comunicar ou durante situações de exposição.
RH - Existe algum padrão que determine a maneira adequada de usar a voz em um ambiente corporativo?
RH - Existe algum padrão que determine a maneira adequada de usar a voz em um ambiente corporativo?
Luciana Lourenço - A voz deve adequar-se ao ambiente, ao tipo de produto, à atividade exercida e até ao tipo físico do falante. Em ambientes corporativos o comportamento vocal deve ser medido, avaliado, controlado pelo falante e muitas vezes não damos atenção à nossa comunicação de um modo geral. A voz deve ser produzida de forma natural e sem esforço, devemos utilizar uma modulação moderada, sem fazermos uso de excessos em relação à variação de tom e intensidade, dar ênfases quando pertinente, falar com uma intensidade adequada ao ambiente, à distância entre o ouvinte, ter atenção à intensidade de voz ao telefone, articular as palavras com clareza.
RH - Que recursos podem ser utilizados por um profissional, para que a voz torne-se uma aliada da carreira?
RH - Que recursos podem ser utilizados por um profissional, para que a voz torne-se uma aliada da carreira?
Luciana Lourenço - Não poderia deixar de dizer que o fonoaudiólogo, especialista em voz, pode auxiliar profissionais a se comunicarem de forma mais objetiva e clara e em público. Contudo, acredito que alguns pontos podem ser importantes como, por exemplo: o feedback dos colegas acerca de sua própria comunicação pode ser um bom termômetro; uma escuta ativa da sua própria voz gravada ou a avaliação de sua performance comunicativa gravada em vídeo também pode ajudar. O importante é estar atento à sua comunicação de um modo geral. Além disso, há orientações como as que já citei, como: articular as palavras, moldando as palavras na boca; falar sem esforço, respirar para falar, pois assim consegue se diminuir a velocidade da fala.
RH - Que orientações a Sra. daria a um profissional de RH que observa que em uma determinada equipe os gritos prevalecem?
RH - Que orientações a Sra. daria a um profissional de RH que observa que em uma determinada equipe os gritos prevalecem?
Luciana Lourenço - Em primeiro lugar seria interessante realizar uma pesquisa de clima organizacional. Mas se posso dar um conselho prático, faria um trabalho de observação das atitudes comunicativas utilizadas na empresa, listaria os comportamentos vocais mais utilizados, sugeriria a aplicação de questionários de auto-avaliação do comportamento vocal, traçaria o perfil vocal do grupo e em seguida ofereceria as orientações.
Um comentário:
A-M-E-I esse post.!!
Parabéns!
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